- Maio 20, 2015 -
Categoria: A minha camisola de marinheiro (autoria Ana Prata)
Todas as peças de roupa têm o potencial de ser memoráveis, mas na verdade a maior parte não o são. E ainda bem, assim nota-se mais aquelas que por uma razão ou outra se destacam. As calças brancas que por si só fazem anunciar o Verão, o vestido de seda dos casamentos (e das respectivas bebedeiras…), o bikini-ninja que parece ter a capacidade de nos fazer descontrair e esquecer que estamos de bikini, ou a camisa de lenhador que é tão confortável que podíamos perfeitamente ir cortar lenha agora mesmo com ela.
Mas as roupas das memórias não são principalmente estas, mas aquelas cujos momentos e a vida se inscrevem nelas de uma forma que já nem sabemos se as adorávamos antes ou se depois. Pode ser a t-shirt esburacada do nosso primeiro festival, o casaco caro que o pai nos comprou pouco antes de morrer, o vestido com que estávamos no momento em que percebemos que íamos ficar com a pessoa que amamos, a mala comprada com um dos nossos primeiros ordenados e já derrotada pelo uso.
No entanto, entre as roupas que são memoráveis porque as adoramos vestir e as roupas que adoramos porque eram elas que tínhamos vestido nos momentos memoráveis, está uma outra categoria não menos importante de roupas memoráveis. As roupas a que voltamos, as roupas repetidas, enfim as roupas que se parecem com roupas que já temos, já comprámos, mas que por alguma razão continuamos compulsivamente a procurar. Para mim é nessa categoria tão especial que está “a minha camisola de marinheiro”. Muito parecida com todas as outras camisolas de marinheiro que fui tendo ao longo dos anos, mas diferente porque esta é a das riscas vermelhas, esta tem uma âncora, esta é de manga ¾ igual mesmo à dos marinheiros, esta tem riscas pretas e é curta. Racionalizar o amor faz sentido, e eu tenho racionalizado as riscas na minha vida. Para mim a camisola de marinheiro é como começar a cantar uma música dos GNR ou dos Xutos que se ouve no rádio, é sempre familiar, descontraída, fácil, cool, apropriada, e melhor ainda quando se partilha e de companhia.
Aqui fica, em dia de começos e apresentações, a minha camisola de marinheiro. E as vossas? Afinal, nós marinheiros e marinheiras estamos todos no mesmo barco. Fico à espera… AHOY!
Ana Prata
Deixe um comentário